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A HISTÓRIA:
Ferris Bueller's Day Off (Curtindo a Vida Adoidado) é um filme estadunidense, do gênero comédia, dirigido por John Hughes, considerado "o mestre dos filmes adolescentes dos anos 80".
O filme, cuja história trata de um jovem que, para aproveitar a vida, finge estar doente para matar aula junto com sua namorada e o melhor amigo, é visto pela crítica moderna como um clássico e um paradigma do cinema de 1980, notável por ser uma obra cinematográfica que o espectador não se cansa de rever – muito embora, a maior parte das críticas iniciais tenha sido negativa, por acreditar que o roteiro fazia uma apologia aos "matadores" de aula. O que, no fundo, sabemos que a história vai muito além disso, tratando de forma bem humorada e às vezes de maneira sensível, as relações dos jovens com seus amigos, com seus pais e o espírito de liberdade e amizade que cada um deles tinha.
A interpretação de Matthew Broderick, escolhido pessoalmente por Hughes para o personagem título, e posteriormente indicado ao Globo de Ouro de 1987 na categoria de melhor ator em comédia/musical pelo seu trabalho, é atualmente aclamada por críticos de todo o mundo, como o brasileiro Rubens Ewald Filho, que tem esse, como o melhor trabalho do ator. Ferris Bueller, seu personagem, é muito mais que um simples cabulador de aulas... ele se torna um mito e uma lenda para todos aqueles adolescentes da década de 80 que sonhavam em programar um dia para se divertir com o melhor amigo e a namorada. Engana-se quem pensa que tudo é muito fácil para os 3 amigos; Ferris, seu amigo Cameron e sua namorada Sloane não são os típicos adolescentes populares na escola... Cameron, por exemplo, tem problemas com o pai que terá que ser enfrentado mais tarde, quando o carro que usaram (uma Ferrari GT 280) é destruída; Sloane sofre as angústias e as incertezas de uma jovem romântica que planeja o futuro ao lado de seu namorado e, finalmente, Ferris Bueller, que terá que enfrentar a irmã invejosa e chegar em casa antes de seus pais. E tendo que, acima de tudo, driblar o implacável diretor Edward Rooney (considerado um dos "vilões" mais engraçados do cinema). Tudo, elaborado de forma magistral pelo diretor e roteirista John Hughes, que não imaginava que Ferris Bueller e o filme tornariam-se um ícone para toda uma geração!
(Os amigos - da esq. p/ dir: Mia Sara como Sloane Peterson, Matthew Broderick como Ferris Bueller e Alan Ruck como Cameron Frye)
Em 2006, a revista brasileira Veja, ao comentar o lançamento do DVD do filme, vinte anos após sua estreia, disse ser uma obra definitiva e insuperável no estilo, e que não envelheceu: todo o tempo, a obra festeja a simples alegria de viver, em cenas antológicas. Para o crítico de cinema Peter Reiher, as cenas de sala de aula justificam o preço do ingresso: fazem-no lembrar os tempos de escola, quando todos enfrentam aulas chatas e professores enfadonhos... mas, mais do que isso: trás de fato, a felicidade e a magia de uma época, em que não sabíamos o quanto éramos ingenuamente felizes.
A DIREÇÃO:
Peter Reiher acentua que o personagem de Broderick é uma verdadeira "armadilha" para o diretor: sua falta de caráter poderia facilmente ter levado o público a odiá-lo – mas John Hughes consegue estabelecer uma espécie de cumplicidade do espectador, fazendo com que Ferris fale diretamente a quem assiste. O crítico acentua que o diretor encontrou os momentos corretos para fazer os cortes das tomadas, bem como imprimiu ao filme um ritmo acelerado, mas não o bastante para que se percam os detalhes.
(O diretor e roteirista John Hughes, falecido em 2009)
Num resumo da personalidade dos personagens, Cameron seria aquele amigo que gostamos muito, mas percebemos que tem alguma dificuldade pessoal e queremos ajudá-lo... Ferris ajuda a tornar Cameron muito mais seguro, mais forte. Sloane, a namorada, é romântica e delicada, mas percebe em Ferris, um arrojo de vida que ela mesma não sabia que tinha, um gosto pela vida trancafiado em regrinhas comportamentais... Ferris a ajuda liberar tudo isso, fazendo com que ela seja ainda mais ela. E no fim, Ferris continua sendo "o rebelde"... mas aquele rebelde legal, inteligente e carismático, que todos gostariam de ter como um grande amigo. Hughes, enfim, define tudo isso muito bem com sua brilhante direção!
A CRÍTICA ANTIQUADA:
A obra de Hughes teve uma posição inicial da crítica muitas vezes adversa. No momento em que o filme foi lançado (em 1986), havia uma forte influência do governo conservador de Ronald Reagan nos Estados Unidos da América, vivia-se uma onda neoliberal, que fizeram alguns dos críticos enxergarem neste filme uma propaganda desses valores.
("Alguém? Alguém...?". O professor chato feito pelo ator Ben Stein. "Bueller? Buller...?")
A apreciação mais recente, contudo, como mais adiante pode-se ler na crítica moderna, apresenta uma outra visão sobre "Ferris Bueller", mais afeita aos aspectos filmográficos do que aos fatos sociais do momento histórico de então.
A escritora Janet Staiger, em seu livro "Perverse spectators: the practices of film reception", faz uma análise das críticas feitas em vários jornais e revistas sobre o filme. Segundo ela, alguns críticos parecem sucumbir à ideologia do consumismo, e a apreciação do filme parece ser feita apenas sob a ótica de homens brancos, ricos e caucasianos – e que esta talvez fosse diferente se feita pela ótica feminina, de um negro, gay ou hispânico. Da análise de treze publicações, encontrou alguns resultados que considerou surpreendentes, como a feita pela crítica Rita Kempley, do Washington Post; ela declarou desejar que Ferris fosse seu amigo, pois ele diz para aproveitar um dia em sua vida da melhor maneira. Em vários deles, a crítica negativa revela algo que não é surpresa, contudo, por serem adultos repelindo um filme sobre adolescentes (com ressalva para dois dos críticos, que disseram haver gostado da obra), ao passo em que os resultados positivos junto ao público adolescente revelam que Hollywood acertou seu público-alvo.
A CRÍTICA CONTEMPORÂNEA:
A crítica Nina Darnton, do The New York Times, traçou um painel do filme, quando de seu lançamento em 1986, observando que a figura de Ferris surgia como um adolescente ímpar, capaz de romper a hierarquia entre idades que existe nesta fase, sendo popular entre veteranos, novatos, drogados, atletas, etc., de modo tão acentuado que faz parecer o sistema de castas indiano uma ordem igualitária. Acentua que a percepção do diretor Hughes sobre a adolescência é algo perturbador, pois este reflete com sensibilidade o "mundo de Peter Pan" sem perder a experiência e o conhecimento adultos: é assim que retrata as aulas como algo maçante, os exercícios físicos como uma tortura, e os adultos de modo estereotipado. Para ela, dois personagens crescem substancialmente na trama: Cameron (o amigo) e Jeanie (a irmã).
(A invejosa irmã de Ferris, Jeanie, feita por Jennifer Grey)
No Brasil, a revista Manchete dizia, em 1987, que "o roteiro de Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller's Day Off) nada tem de especial", fazendo coro à crítica contrária do país de origem da película. Também a crítica Leneide Duarte, na revista Veja de 21 de janeiro daquele ano, disse que o filme pecava por criar personagens estereotipados, como a postura heroica de Ferris, o medo e hipocondria de Cameron, ou a perseguição do diretor Rooney, que lembrava o inspetor Miguel da Turma do Bolinha, não passando de um "divertimento despretensioso para adolescentes".
A CRÍTICA MODERNA:
Em 2006, quando o filme foi finalmente lançado em DVD, Jen Chaney disse concordar com o professor/ator Ben Stein, quando declara num "extra" que "Eu não sei se há um filme mais alegre do que este" e que os extras oferecidos pelo relançamento deveriam incluir mais comentários do diretor, para que ele explicasse o poder de permanência dessa comédia.
Alguns aspectos inicialmente tidos por negativos do filme passaram a ser abordados por uma ótica alheia à política coetânea. A frase dita por Ferris sobre a rapidez da vida, apreciada negativamente pelo sociólogo David Denby, serve de introdução num capítulo de "Genre Studies in Mass Media", de Art Silverblatt (2007), que mais adiante justifica: "Uma inversão de papeis das gerações culmina no filme Ferris Bueller's Day Off. Em um mundo pós-moderno de rápidas mudanças que perdeu as inocentes ilusões fixadas pelas normas morais, os adolescentes são mais adaptados para agir de modo decisivo, com coragem, sabedoria e amizade." Silverblatt conclui que a visão das gerações no pós-guerra passou a ser de conflito, como em Juventude Transviada; nos anos 80, como o filme de Hughes demonstra, os adultos passaram a ser "irrelevantes".
("Ferrari GT 280... apenas 5 dessas no mundo foram construídas... e uma está na garagem do meu pai!")
Silvio Pilau, também em 2007, acentua que o enredo não poderia ser mais básico – "um adolescente que mata aula para se divertir. Simples assim." Mas, em seguida, completa: "O que fez (e ainda faz) da obra um acontecimento cultural tão impactante é a maneira irresistível na qual ela é contada pelo diretor e roteirista Hughes, além, é claro, de girar sobre um tema capaz de apelos a qualquer pessoa em qualquer idade. Isso, por si só, já é sensacional!"
Para o cronista Eduardo Haak, "Curtindo a Vida Adoidado" é um filme que possui "inesgotabilidade", uma obra cinematográfica que o espectador não se cansa de rever, tal como ocorre com certos desenhos animados. Aprecia, ainda, a função de Ferris como "agente catalisador" das mudanças no amigo Cameron Frye, considerado por Haak o verdadeiro personagem principal, já que Cameron poderia ser facilmente, qualquer um de nós, com medos, receios e inseguranças pertencentes à vida e à idade.
Fred Karlin e Rayburn Wright, analisando o uso da música nas obras de Hughes, lembram como este faz citações musicais e referências a canções bastante conhecidas, como na cena em que Ferris, vestindo um terno para fingir ser o pai de Sloane, entra na cozinha de sua casa e diz "Bueller – Ferris Bueller" tendo ao fundo a música do compositor Ira Newborn que, junto ao timbre acentuado da voz, fazem clara alusão ao trabalho de John Barry nos filmes de James Bond.
(Ferris cantando e dançando junto com toda a cidade de Chicago, ao som de "Twist and Shout")
Jen Chaney do The Washinton Post disse que "O clássico de John Hughes se destaca como uma das raras comédias que refletem bem a sua época – meados dos anos 1980, como se pode ver pelo sintetizador de Ferris, e por Sigue Sigue Sputinik na trilha sonora. Já Mathew Broderick relembra que a ideia de cantar Danke Schoen no banheiro foi uma ideia dele: enquanto filmavam a cena ele resolvera ensaiar a canção, que deveria cantar durante a cena da parada e que nunca antes escutara, fez então um moicano no cabelo e cantou; o diretor Hughes não cortou o improviso e usou-o no filme – revelando, segundo o ator, sua genialidade.
O uso da música clássica nesta comédia é lembrado por Melanie Diane Lowe como um identificador da cultura elitista e esnobe que há no centro dos Estados Unidos da América. A visita dos jovens ao restaurante de alta cozinha Chez Quis, onde Ferris finge ser o rei da salsicha de Chicago apesar de estarem inadequadamente vestidos, a situação de conflito com o maître é secundada pela execução do Minueto de Boccherini do Quinteto para cordas em mi maior; já o Quarteto de cordas n.20 em ré maior "Hoffmeister" K.499, de Mozart, retrata o momento em que Ferris sai vitorioso. Apesar de ter se infiltrado no detestável e esnobe mundo da classe-média, Ferris mostra depois a "sua" música, quando canta finalmente Twist and Shout.
Em 2008 a prestigiada e famosa revista de música Rolling Stone escolheu as melhores músicas dos filmes da década de 80, e "Oh Yeah" de Yello, integrante da trilha de "Curtindo a Vida Adoidado" ficou em nono lugar.
O IMPACTO CULTURAL DO FILME:
Na campanha presidencial de 1989, o candidato Dan Quayle declarou que este era seu filme predileto, porque "ele lembra a mim, no meu tempo de escola".
A então Primeira-dama dos Estados Unidos da América, Barbara Bush, parafraseou Ferris num discurso proferido no Wellesley College, em 1990: "Encontre a alegria de viver, porque como Ferris Bueller disse no seu dia de folga, 'A vida anda muito rápido; e se você não parar e olhar em volta de vez em quando, irá perdê-la.'" Então, respondendo aos aplausos, acrescentou: "Não irei contar ao George que já recebi mais aplausos por causa do Ferris do que por causa dele".
(Jeffrey Jones, como o implacável - e azarado! - diretor da escola Edward Rooney)
As bandas de rock pop chamadas Rooney e Save Ferris têm esses nomes devido ao filme, uma homenagem ao personagem Edward Rooney que persegue Ferris Bueller, e a outra é uma referência à frase famosa dita pelos alunos no filme, respectivamente.
O filme é citado na trama do romance fantástico, Music to My Sorrow, de Mercedes Lackey e Rosemaru Edghill, em que o personagem central, um rapaz chamado Magnus, deixa de compreender uma mensagem por ter assistido as aventuras de Ferris Bueller na televisão, e não em um cinema.
BILHETERIA:
A estreia do filme nos Estados Unidos se deu em 1330 cinemas, e alcançou o segundo lugar na bilheteria daquele final de semana, com US$6,275,647, atrás apenas do filme De Volta às Aulas (Back to School). Ao final daquele ano, Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller's Day Off) havia alcançado uma bilheteria superior a 70 milhões de dólares, tornando-se o décimo filme mais assistido de 1986, um sucesso de bilheteria em consideração ao enxuto orçamento de 6 milhões de doláres.
CURIOSIDADES: