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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Falando de Filme #5 - O Menino do Pijama Listrado


Antes de iniciar essa crítica, gostaria de dizer que sou fascinado por dramas de guerra. Não dramalhões, mas aqueles que são feitos com sensibilidade à ponto de nos fazer questionar profundamente sobre o conceito da Guerra, à respeito da imbecilidade dos conflitos entre povos e sobre a importância da humanidade e do afeto onde ela nem existe mais. O Menino do Pijama Listrado ("The Boy in the Striped Pyjamas", 2008) não só consolida todos esses elementos de maneira direta e magistral, como se torna ao meu ver, uma das obras mais importantes a se discutir dentro desse gênero.

Elsa, a esposa de um soldado Nazista, aceita se mudar com ele para as proximidades de um campo de concentração depois que seu marido é promovido a Comandante. Digna e dedicada, Elsa leva com ela seus dois filhos: a menina Greitel e o curioso Bruno, seu caçula. Elsa é humana, sábia e carinhosa, mas não imagina o que realmente seja um campo de concentração! Ao seu entender, tais campos são apenas presídios ou centros de contenção que tem como objetivo alocar prisioneiros judeus que estejam direto ou indiretamente envolvidos com as guerras. Com ela, seu filho Bruno partilha da mesma inocência, só que o garoto de apenas 8 anos, enxerga os campos como fazendas e acredita que todas aquelas pessoas do outro lado da cerca, sejam fazendeiros.

Recém afastado de seus amigos da cidade, Bruno carece de novos companheiros de mesma idade, e ao avistar um menino com a cabeça raspada trajando um uniforme listrado semelhante a um pijama, e sentado sempre próximo da cerca de arames farpados, que Bruno vê a chance perfeita para se reconstruir um novo amigo. Só que existe um grande e terrível problema nessa inusitada relação... o novo menino chamado Schmuel (ou Samuel, que é como Bruno o chama depois que o conhece) é um pequeno Judeu, e como todos naquela época, era tratado como um verme asqueroso, cercado por soldados alemães prontos para lhe machucar, caminhando sem mais esperança - ou força! - de viver com alegria. E, mesmo assim, é através do menino alemão Bruno, seu mais novo amigo, que o judeuzinho Samuel volta a sorrir. E está aí toda a carga de emoção, beleza e inteligência que o filme poderia nos transmitir: na sincera e natural amizade dos dois meninos!!!

É emocionante ver que quando Bruno (Asa Butterfield) conhece Samuel (Jack Scanlon) atrás do cercado, a primeira pergunta eufórica que este lhe faz é se tem muita comida de onde ele vem? Ora, não precisa ter mais diálogos para se complementar o terror que aquele cenário de guerra fez no menino judeu... sua transparente e sofrida pergunta já exprime todo o resumo da covardia e humilhação pelo qual ele está passando. O roteiro é fabuloso! Não há como se elogiar um filme quando não nos sentimos tocados e deslumbrados com a maneira de como os personagens são desenvolvidos, como a história é transmitida e como toda a linha narrativa do filme é colocada de maneira gradativamente espetacular. O diretor Mark Herman adaptou de forma perfeita o já extraordinário best seller de John Boyne realizando uma direção precisa, segura e totalmente envolvente. O elenco também ajuda, principalmente, a competentíssima atriz Vera Farmiga (a Elsa, mãe de Bruno) que consegue mudar toda a sua forma interpretativa em reagir contra os métodos de seu frio marido. Aliás, acredito que foi ela a grande vítima de toda a estupidez que seu imbecil esposo colaborou.

Mas no entanto, é a amizade de Bruno e Samuel que mais mexe com a gente! Não há uma cena se quer, onde os dois meninos aparecem juntos que não nos sentimos compartilhados de tudo aquilo. Não são excelentes atores mirins ou crianças-prodígios como Haley Joel Osment ou Dakota Fanning, mas conseguem com naturalidade e com um envolvimento sutil, despertar em nós o carinho e a verdade que aquela relação tão cheia de obstáculos poderia nos passar. E conseguem pra valer, com muito louvor! Bruno e Samuel, diferente dos meninos de O Caçador de Pipas, jamais se afastam ou se renegam por algum motivo... ao contrário, quando tudo parecia distanciá-los de vez, é quando eles se unem no momento mais bonito e ingênuo de todo o filme... é quando, finalmente, O Menino do Pijama Listrado chega em seu desfecho e se torna uma poesia!

Essa pérola cinematográfica é a prova absoluta de que jamais foi necessário usar efeitos ou se utilizar das eloquências técnicas que o Cinema pode proporcionar para se criar um verdadeiro drama de guerra. E para um filme desse gênero, é espantoso que não haja sequer um único tiro ou sangue derramado durante toda a projeção... e foi isso que me deixou ainda mais fascinado, pois O Menino do Pijama Listrado nos dá uma aula de intolerância humana não em cenas violentas, mas apenas mostrando a dificuldade de se manter uma afetuosa e carinhosa relação entre dois pequenos amigos... só por terem etnias diferentes.

PS: O velhinho que faz o judeu Pavel nos comove inteiramente, e ver ele em cena assim como observar aquela fumaça negra sendo expelida pelas chaminés dos campos de concentração, nos faz perguntar do por quê de toda aquela estúpida selvageria? Um filme que merece ser visto e revisto, mesmo que seja uma verdadeira e precisa pancada na alma.

2 comentários:

  1. Não assisti esse filme ainda por questões pessoais, mas tua escrita me instigou. Penso duas vezes antes de assistir esse tipo de filme, mas vou tentar.

    Até, Marcel.

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  2. Vi este ótimo filme algum tempo atrás, Marcel.
    Ele realmente nos faz refletir no porque de tanta estupidez baseada apenas em diferenças culturais.
    E o pior de tudo, é que a humanidade não muda em nada.
    Valeu.

    Jacques Beduhn
    http://relativaseriedade.blogspot.com/

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