Barbearia ou Salão de Cabeleireiro? Eis a questão

Um dia desses, cansado já de ir à minha velha e movimentada barbearia para cortar o meu cabelo com o "Sr. Dico" e o "Bigode" (esses são "os nomes" dos senhores que cortam minhas madeixas!), fui ao "Salão Paraíso dos Cabelos", perto da minha casa e onde minha vizinha algumas vezes ia e voltava feliz. Bom, com esse nome, eu de fato acreditei que as mocinhas de lá iam fazer maravilhas na minha cabeça e já estava, ao menos, satisfeito pelo salão não ser cor de rosa clarinho, não ter desenho de flores em seu design e tampouco ter alguma palavra em inglês no título... já que "Hair Style", "Flowers on the Head" ou "Sun Saloon" é muito, mais muito batido.

Bom, e lá fui eu munido de vontade em querer diferenciar o corte do cabelo e munido também com uma boa grana, já que enquanto pago uns 10 reais no máximo lá na minha Barbearia que nem nome tem, iria torrar pelo menos, uns 25 reais no Paraíso dos Cabelos. O sinal de que aquela minha decisão do dia já não estava legal, é que assim que entrei na porta de vidro toda lustrosa e brilhante do salão, só vi mulheres e gays: cadê os homens para eu usar como referências capilares??? Onde estavam eles? Isso não me "cheirou" bem. Aliás, por falar em cheiro, enquanto lá na minha barbearia cheia de cabelo no chão só cheirava à água sanitária ou às vezes à bala de hortelã que o Sr Dico costumava oferecer, ali no Salão era cheiro de cabelo molhado com cremes misturados de todo o tipo e mais perfumes de dondocas. Confesso que em um minuto, eu já estava ficando enjoado... mas tudo bem, era eu que não estava habituado ao ambiente e deveria me adequar!

Mas eis que as desventuras têm início. Pra começo de conversa, o ar condicionado devia estar no máximo e com o termostato a mais de mil, já que o clima do salão parecia estar à baixo de zero, pois tudo estava super gelado e eu cheguei a ver as clientes nas cadeiras tentando se cobrirem com as toalhinhas que os cabeleireiros colocam em volta do pescoço! Todos pareciam estar com muito frio. Tinha uma garotinha que estava com o cabelo molhado, que parecia tremer os dentes, coitada... e quando sentei nos banquinhos de espera, um dos ferros do braço do banco, estava mais gelado que um copo metálico que eu coloco dentro do meu freezer de casa. Temperaturas exageradas à parte, eu já notei a primeira diferença da minha humilde e velhinha barbearia pro Salão Paraíso dos Cabelos, pelos tipos de leituras que eles disponibilizam para sua clientela, enquanto ficamos esperando. Enquanto o Sr. Dico e o Bigode deixavam o Jornal dos Esportes, artigos de automóveis e revistas de mulher pelada empilhadas num canto, o salão ali deixava dentro de uma cestinha de palha trançada e ornamentada com florzinhas, a revista "Caras", "Cláudia", "Te Contei!" e mais outras trocentas sobre cabelos. Em menos de 5 minutos, eu já sabia quase tudo sobre a vida da Ana Hickman, dos escândalos em que Suzana Vieira se envolveu, da dieta rigorosa do Faustão e dos vários apliques que Taís Araújo já usou. Isso tudo, embalado em um som ambiente que tocava baixinho Lady Gaga. Aquela minha espera de 10 minutos, começou a parecer uma eternidade! Ainda mais quando duas peruas sentaram do meu lado esperando a vez também e começaram a falar da novela das oito... e quando já iam emendar no assunto dos maridos que provavelmente estão aprontando com elas, o cabeleireiro de nome Humberto me chamou com todo o carinho. Por quê sei o nome dele? Simplesmente porque todos os funcionários daquele salão tinham seus nomes bordados em seus aventais... que chique! E em pensar que eu só fui descobrir como se chamava o meu barbeiro, depois de 6 meses quando um cara entrou na Barbearia dizendo algo do tipo pra ele: "Dico, seu filho da puta! O teu botafogo tomou no rabo ontem, héin!!!". Bom, já o "Bigode" eu ainda não sei o nome dele, mas como todos os chamam assim, então, eu respeitei a regra.

Mas Humberto estava lá, firme, forte e sorridente, próximo de mim perguntando como eu queria? Claro que na hora, pensei besteira depois dessa pergunta, ainda mais que o meu barbeiro sempre perguntou apenas: "A mesma coisa de sempre, né?", e ali com o Humberto me senti um tanto desnudo, principalmente que ele usava um delineador de lábios e pintava os olhos. Bom, eu disse mais ou menos que queria cortar bastante porque o cabelo estava grande e que poderia deixar bem batido na nuca, e nada mais que isso. Quando pensei que o Humberto fosse pegar a tesoura e começar a trabalhar, ele me gira a cadeira, inclina ela, grita pra Fernandinha pegar a bacia de vidro e me coloca a cabeça debaixo de uma torneira forte, espumosa e quente!!! Porra, aquela água tava tão quente que mais parecia o chuveiro do inferno! Nunca tive a cabeça molhada por uma água fervente! Estava pelando de verdade, tanto que eu tinha a sensação que o meu crânio estava pegando fogo! Tinha horas então que os pingos caíam na testa, e pareciam que eu estava sendo escalpelado, que a pele estava derretendo... putaquipariu! Depois da cabeça "em chamas", eu entendi porque eles deixavam o ar condicionado tão forte: acho que era pra amenizar essa sensação de ser incinerado. No meio dessa lavagem com a água do demônio, a tal Fernandinha que conversava com o Humberto sobre a roupa de uma amiga deles em comum, me tacava todos os tipos de cremes possíveis no cabelo: era creme verde com cheiro de arbusto, era creme amarelo com cheiro de manga, era uma gosma rosa, uma pasta azul... bom, se o meu cabelo não ficasse macio e brilhoso depois de todo esse coquetel, certamente, eu saberia que ia sair dali com ele parecendo um bonito arco-íris! E as mãos da Fernandinha não fazia juz ao seu nome diminutivo. As mãos pesadas, fortes, rápidas e frenéticas da menina, mais parecia que era uma Fernandona violenta com raiva do namorado e na TPM. Putz, a garota mexia e torcia tanto na minha cabeça que eu poderia jurar que ela queria furar a minha caixa craniana com a ponta dos dedos! Eu podia sentir as unhas dela já abrindo o meu crânio! Cheguei a perguntar do porquê de todo aquele movimento (afinal, eu poderia sair dali com dor de cabeça se, por sorte, ela não quebrasse o meu pescoço antes!). E a "doce" Fernandinha só respondeu que era uma massagem revigorante para o couro cabeludo! Quase pergunto se ela também iria fazer massagem no cérebro, já que faltava pouco pra ela tê-lo em mãos!!!

Depois de ser torturado... digo, "massageado" pela Fernandinha, ela me joga uma toalha na cabeça cobrindo meu rosto com ela, e parece fazer uma espécie de turbante com a toalha me deixando com a sensação de ter virado um Sheik Árabe. Até achei engraçado, se não fosse o momento de enxugarem o meu cabelo. Bom, eu ainda não via direito com a toalha caída na cara, mas pela força medieval e psicótica, eu imaginei que quem estava enxugando era também a Fernandinha. Assim que ela terminou a enxugada sádica, veio Humberto com os dedinhos espalhando o meu cabelo e com uma tesourinha que tinha um adesivo da Hello Kitty colada nela!!! Eu admito que dei uma risadinha de lado, mas o Humberto estava sendo tão profissional que me mantive sério para respeitar seu serviço. O rapaz até que era ágil com a tesoura, mas quando chegava perto da orelha, ele parecia dar "a volta ao mundo"... não que eu seja orelhudo, mas desconfiei que Humberto dava suas tesouradas com mais cuidado em volta delas. Nessa hora lembrei do Bigode lá da barbearia que pegava a minha orelha com a mão esquerda e com a direira, ajustava a NAVALHA fazendo a linha toda em volta dela, isso em fração de segundos! Bigode virou um ídolo quando demonstrou essa façanha mantendo minha orelha intacta.

Depois de mais ou menos meia hora ou um pouco mais, Humberto tira a toalhinha em volta do meu pescoço, me dá uma escova para eu me pentear olhando no espelho gigante na minha frente e esburrifa um líquido cheiroso na minha nuca. Eu olho pra ele, ele me dá um sorrido, me entrega um cartãozinho do salão e me direciona para uma pequena fila e um balcão onde todos... digo, TODAS pagam no caixa.

Morri em 23 reais, cheguei em casa com o cabelinho ultra cheiroso e brilhoso, mas descubro que o Humberto cortou bem pouco... a minha nuca não estava tão batida assim. Fiquei com a impressão que eles mais enfeitam do que propriamente cortam! Pelo menos, aí no Salão Paraíso dos Cabelos. Todos muito simpáticos, num ambiente que mais parecia um Iglu, com uma torneira das profundezas, com uma Fernandinha na TPM, pra ter a constatação que Sr. Dico e o Bigode, mesmo com toda a rudeza e a pobreza de seus cenários profissionais, são MUITO MAIS talentosos que alguns cabeleireiros.

* O engraçado é que às vezes, na Barbearia me cortam demais, e no Salão me cortam de menos... to achando que vou ter que aprender a cortar sozinho!